comentando#219
“O vício é a marca de toda história de amor baseada na
obsessão. Tudo começa quando o objeto de sua adoração lhe dá uma dose generosa,
alucinante de algo que você nunca ousou admitir que queria – um explosivo
coquetel emocional, talvez, feito de amor estrondoso e louca excitação. Logo
você começa a precisar dessa atenção intensa com a obsessão faminta de qualquer
viciado. Quando a droga é retirada, você imediatamente adoece, louco e em crise
de abstinência (sem falar no ressentimento para com o traficante que incentivou
você a adquirir seu vício, mas que agora se recusa a descolar o bagulho bom –
apesar de você saber que ele tem
algum escondido em algum lugar, caramba, porque ele antes lhe dava de graça). O estágio seguinte é você esquelética
e tremendo em um canto, sabendo apenas que venderia sua alma ou roubaria seus
vizinhos só para ter aquela coisa
mais uma vez que fosse. Enquanto isso, o objeto da sua adoração agora sente
repulsa por você. Ele olha para você como se você fosse alguém que ele nunca
viu antes, muito menos alguém que um dia amou com grande paixão. A ironia é que
você não pode culpá-lo. Quero dizer, olhe bem para você. Você está um caco,
irreconhecível até mesmo aos seus próprios olhos.
Então é isso. Você agora chegou ao ponto final da
obsessão amorosa – a completa e implacável desvalorização de si mesma. ”
(“Comer, Rezar, Amar” – Elizabeth Gilbert. Objetiva,
página 34)
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