Histórias de ônibus. Parte 1

Tem cada coisa hilária que acontece dentro dos transportes alternativos urbanos. O que apresenta o maior índice de coisas estranhas e fora da realidade comum e monótona da normalidade é o ônibus. Não sei explicar o motivo de sempre presenciar algumas situações surreais dentro de ônibus. Sempre tem uma “figura” dentro de um ônibus pra tirar sua paz ou para fazer você rir. Foi movido por uma dessas “experiências” vividas cotidianamente dentro desses veículos automotivos que fui inspirado a abrir essa série de narrativas abordando o tema sobre histórias que só acontecem em ônibus! Enfim, espero que gostem:
Abrirei esta série com a história que me aconteceu ontem que denominei “O caso da velhinha caduca”:
O Caso da Velhinha Caduca
Acordei umas 8:00 horas da manhã de quarta-feira (mais especificamente, dia 18 de novembro de 2009) e fui pegar um ônibus pra Niterói, daqueles que passam pela BR. Por volta das 9 e alguma coisa, já tinha pegado o bendito ônibus. Estava com o dinheiro todo em moedas pequenas (um bolo de moedas na mão!), por isso o motorista (que por sinal era muito gentil...), sem conferir o valor tacou elas no recipiente de moedas com violência tal, que assustaria até o mais vil dos seres humanos. Eu respirei fundo, contei de um até dez e achei melhor não dizer nada. Sentei-me e abri um livro pra ler. À medida que o ônibus ia cumprindo o seu percurso, pessoas entravam e saiam como é de costume. Cheguei ouvir um indivíduo mal-humorado gritando grosseiramente o nome “João, vem logo!”, quando fui olhar o tal João, era um jovem de aproximadamente 18 anos de idade se esforçando para descer do ônibus sem machucar ninguém (Já que o ônibus estava um pouco cheio). Pensei cá com os meus botões, “prá que essa ignorância toda desse imbecil? Ele não esta vendo que o menino precisava de espaço pra passar pelas pessoas? Tem gente que é muito imbecil...”. Depois desses pensamentos voltei para minha leitura. O ônibus tinha continuado seu percurso e tinha esvaziado um pouco.
Depois de minutos de leitura intensa e hipnotizante, fui retirado do meu livro por algo nada comum. Uma voz dizendo: “- Ela mama na patroa! Ela mama na patroa! Carteira assinada... Mas ela mama na patroa!” Olhei procurando de onde vinha essa frase e vi uma senhorinha de idade avançada falando isso, olhando para o rapaz que estava sentado do lado oposto ao dela. A princípio pensei que era só uma conversa comum entre duas pessoas. Mas logo percebi que o rapaz não estava falando com ela e que ela não se referia especificamente a ele. Ela estava falando sozinha! E em alto e bom som continuava repetindo nervosamente: “-Ela mama na patroa!”. Fiquei uns minutos tentando entender o que ela dizia e percebi que ela não devia “bater” muito bem da cabeça. Voltei para minha leitura.
Passados mais uns minutos, comecei sentir àquele cheiro “maravilhoso” de maresia, lama podre e lixo da Baía de Guanabara. Quando de repente ouvi:
“-Olha aí, o homem está destruindo isso aí. Você vai comer isso aí!” _ A velhinha outra vez começou gritar. Só que desta vez ela estava falando e apontando para a moça ao lado dela que estava tentando dormir. “–Vocês vão comer isso aí!” _Percebi que ela se referia à poluição da Baía. “–Vocês vão comer isso aí?” _ Perguntava e afirma ela furiosamente. “–Olha esse cocô! Vocês vão comer isso? Tem sal aí? Tem sal nesse cocô?!” _ Aí pronto! Eu não agüentei! Enfiei a cara dentro do livro que estava lendo e comecei a rir desesperadamente. Não só eu estava rindo, mas as moças que estavam sentadas a minha frente e o homem ao meu lado. E ela continuava: “-Tem sal nesse cocô? Se o sal se tornar insípido que haverá de salgar? Jesus está voltando! Tem sal aí?!” _ Aí que todo mundo riu mesmo. Eu pensei: “O que ela esta dizendo? Uma coisa não tem nada a ver com a outra! O que o sal da água da Baía tem haver com cocô e a passagem Bíblica?! Meu Deus, que viagem!!!” E ela continuava dizendo sobre o cocô com sal e outras coisas sem sentido. De repente ela começou a cantar o hino da harpa cristã “alvo mais que neve...” Parou de cantar e apontou freneticamente para o mar dizendo: “-Olha lá, ó! Tenente, coronel, sargento, cabo, soldado...” _ Aí que eu ria mais ainda, fazendo coro ao pessoal do ônibus. Perguntei a mim mesmo onde ela estava vendo isso tudo... “–Lá em cima tem um monte de cachoeira! Tem cocô lá! Vocês vão comer sal?” _ Dizia ela tentando nos convencer de algo... Gente, eu estava quase fazendo xixi nas calças de tanto rir! Depois ela falou que a vida era muito difícil e começou a cantar aquela música (Acho que é de Martinho da Vila...) “é devagar, é devagar, devagarinho”. As moças da minha frente riam sem parar e comentavam entre si que não entendiam a velhinha, em um momento ela cantava hino e depois ela cantava pagode (samba, sei lá!). Disseram que ela era bem “eclética” e riam de se escangalhar!
Quando estávamos na altura do começo da ponte Rio-Niteroí, debaixo do viaduto, ela apontou para as árvores dizendo: “- Vocês conhecem Peroba? Vocês sabem o que é Peroba?” _ Aí uma das moças da minha frente, disse pra ela rindo: “- Não! O que é?”. Aí ela respondeu: “-É o da folha pequenininha...” _ Aí todo mundo riu outra vez.
O rapaz que estava do meu lado queria filmar para colocar no Youtube, mas estava sem câmera infelizmente. Até eu queria colocar isso no Youtube! Muito surreal!!! Figuras assim são difíceis de achar...
Depois de alguns minutos ela perguntou pra que lugar o ônibus estava indo e que estava demorando muito. Aí as passageiras da minha frente começaram a rir dizendo que ela deveria ter pegado qualquer ônibus sem saber pra onde ia. “-Vocês aí atrás de K. O! Chega de K. O na minha vida!”. _ “Ai Jesus, não acredito que eu estou ouvindo isso!” Pensei eu. Uma velhinha que fala gíria! Quem diria?! Será que ela sabe o que é K. O?! Só sei que ela falou tanta coisa dentro do ônibus, que eu e os passageiros riamos sem parar. Falou coisas absurdamente sem sentido e foi bem enfática com o “cocô com sal da cachoeira (ou da Baía, sei lá!) que nós íamos comer”. Só sei que ganhei o dia com mais uma experiência fora da monotonia da realidade.
Depois de um tempo ela soltou e dando tchau pra todo mundo, saiu vitoriosa e triunfante para seu destino (se é que ela sabia pra onde ia...).
Sintam-se abraçados e amados...
>>Serdera<<
Comentários
Deus usa coisas loucas pra confundir as sabias... nao sei se nao entendeu ..as ela foi bem clara...vcs poluiem akilo que Deus criou e vão experimentar do seu proprio veneno...
.." se o sal se tornar insipido"... o que fazemos nos? pra reverter as coisas... nada!
ela pode ate ser caduca ... mas tem muito mas lucidez ke muitos de nós....
abraçosssssssssssss.....