Teoria da Persuasão

Sabe aqueles pensamentos “flash” que a gente tem de vez em quando? São esses pensamentos loucos, que dão na telha pelo simples fato de quererem existir. Um deles invadiu minha cabeça com tanto alarde um dia desses, que tive que deixá-lo falar à minha grande amiga imaginação.
Estava indo trabalhar. Enquanto esperava o ônibus na parada, veio-me um pensamento um tanto que “reflexivo”, ou se fazendo por reflexivo. Ele veio assim, todo inocente, cheio de teorias sérias e eloqüentes. Contava-me que as pessoas do mundo são estranhas e fáceis de persuadir. Perguntei-lhe por que achava isso de seres tão desenvolvidos intelectualmente. Outra vez voltou afirmar com mais agitação que as pessoas são fáceis de persuadir. Questionei então um motivo. Exemplificou que se um “João” insiste com uma “Maria” que no mês passado ele disse para ela que tinha se casado, mesmo sem se casar, ela acredita que ouviu realmente o que o “João” disse sem dizer. Assustado com tamanho absurdo, disse ao pensamento invasor que me deixasse em paz e não importunasse mais minha imaginação com asneiras. O pensamento invasor, sem se abalar, continuou na afirmação de sua teoria com a aplicação de veracidades incorruptíveis, discursos célebres e etc. Irritado, exigi-lhe uma prova concreta. Outra vez o pensamento invasor, exemplificou com o “João” e a “Maria”: - Digamos que o “João”, querendo convencer a “Maria” de que ele disse pra ela que se casara, invente que ela até disse pra ele que queria almoçar na sua casa com sua esposa. – Isso não prova nada - disse eu não entendendo nada. – Digamos que a “Maria” não lembre que isso aconteceu e, depois de tanto insistir com o “João” que não sabia do casamento, acaba se convencendo que ela mesma está errada e esqueceu-se do ocorrido tão importante – disse o pensamento invasor. – Continuo achando que a “Maria” não caiu nessa conversa do “João” – disse eu num ar convencido. – Sim, mas depois da “Maria” se convencer de que ela realmente esqueceu-se do casamento, sente-se envergonhada e acaba dizendo que “agora sim, estava lembrando...”, “é...”, “ah, tá, me lembrei...”, “foi na terça-feira que eu fui à quitandinha da Rua Alquino Silveira...”. “Como vai a esposa?”. - Isso é um absurdo! – Bradei para o pensamento invasor que, triunfalmente me venceu em minhas próprias convicções.
Quando eu, finalmente, ia admitir que estivesse errado e o pensamento invasor tivesse razão, ele saiu correndo com medo de outro pensamento bem maior que ele, que com um barulho ensurdecedor veio correndo na minha direção, era o meu ônibus que passava, já quase sem dar tempo de fazer-lhe um sinal para parar. De sobressalto, corri até alcançá-lo.
>>Serdera<<
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